Primavera :)



Chegou mais cedo este ano, a 20 Março. O Equinócio foi às 11h44m e, para quem não sabe, Equinócio marca o instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste. É uma palavra de origem latina que significa "noite igual ao dia", pois nestas datas dia e noite têm a mesma duração duração.

E já se fazia adivinhar, com dias a aquecer e noites mornas. Cheiro quente e a flores. Inspirar os pulmões de ar até não caber mais, como se todo o Universo pudesse entrar dentro de nós. E noites longas, quentes, demasiado pulsantes como quietas, tão misteriosamente mutáveis como milimetricamente agitadas.

Feliz Primavera :)
(a imagem é um pormenor da obra A Primavera de Botticelli :)

Dia Mundial da Poesia



Nunca num único post poderia fazer um elogio merecido e completo à Poesia.

Por haver Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andresen e Manuel António Pina e Mário Cesariny de Vasconcelos e Eugénio de Andrade, e tantos e tantos, não me parece que fosse possível enaltecê-los de forma justa e grandiosa. Sendo assim, fica um elogio sincero e humilde, com alguns poemas de que gosto (era para colocar apenas dois mas entusiasmei-me). E já agora, segundo li num livro, na Indonésia diz-se que as quatro virtudes que uma pessoa precisa para ter uma vida segura e feliz são: a inteligência, a amizade, a força, e a poesia :)

Feliz Dia Mundial da Poesia


Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia I (1944)

Amor como em casa
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina, Ainda Não É O Fim Nem O Princípio Do Mundo, Calma É Apenas Um Pouco Tarde(1974)

You are welcome to Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluços
ó espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca
Mário Cesariny

E poderia continuar...

Cinema alemão

Domingo, fim do dia. Ciclo de Cinema Angela Schanele na Culturgest.
Apanhei mesmo o último filme, do dia e do ciclo, Marseille.
Óptimo ver um daqueles filmes, em que se ouve o acender de um fósforo, a caixa de mudanças de um carro, o posar de um copo sobre a mesa, as chaves no porta-chaves, o disparar de uma máquina fotográfica e o passar do rolo.
Muito mais parecido com a vida real. Minutos e minutos em que não há diálogo, a personagem vive o seu quotidiano e tem momentos de reflecção sobre a vida. Que todos temos.

Bom descansar do "cinema Lusomundo" :)



Já agora, para os interessados, três sugestões:

Festival Fervor de Buenos Aires, no CCB, com outras coisas para além de Cinema, de 9 de Março a 8 de Abril;

Festa do Cinema Italiano, de 2 a 9 de Abril, em Lisboa e 4 e 5 de Abril no Porto.

Indie Lisboa de 23 de Abril a 3 de Maio;

Intervalador Palatal

Hoje aumentei a minha cultura geral ao saber o que é um Intervalador Palatal.

Passo a explicar, um Intervaldor Palatal, mais conhecido por "tira sabores", neutraliza o paladar de um prato já ingerido numa refeição e permite-nos uma melhor degustação do prato seguinte (tratando-se, obviamente, de uma daquelas refeições "à Lord", com muitos pratos e muitos garfos, perfilando-se à esquerda do nosso prato, acompanhados por uma fila indiana de copos dispostos de forma decrescente à nossa frente, vulgarmente também conhecidas como Copo d'Água).

Só para ficarem com um ideia, o Intervalador Palatal (acho o nome tão cómico quanto ridículo, daí a repetição quase a roçar o infantil, de quem acabou de aprender uma palavra/conceito novo), pode surgir sob a forma de: "Limão e Vodka", "Maçã Verde e Canela" ou "Tangerina e Manjericão"... Poético hein? ;)

Eu própria já fui tomada de assalto pelo "momento Palatal", sem na altura me ter apercebido da relevância do momento, e muito menos sem conhecer este conceito como me foi revelado hoje, mas aviso já que não senti nenhum tipo de neutralização de paladar...

E este post podia continuar por aqui fora a inventar coisas fashions com nomes tão bonitos como Intervalador Palatal, e que ajudassem à digestão, Perdão, degustação, das overdoses de comida que são servidas nestas ocasiões. Mas, o objectivo era partilhar convosco esta informação preciosa, este ensinamento essencial, este conceito de extrema relvância, este termo indispensável na sociedade de hoje. Sendo assim, ficamos por aqui :)
Bela Manhã em Carcavelos
Um sol a brilhar
Um mar para deslizar
tudo dentro do carro, tudo fechado, siga!
Ao voltar...carro aberto...
A sério que gostava de saber o que raio vai Sua Excelência Quem Me Assaltou o Carro e Me Roubo A Minha Mala fazer com:
- um novelo de trapilho que me ia dar um jeitaço e que estava a fazer um enorme furor;
- o livro de que falei no post anterior e que ainda estava no inicio mas que já tinha avançado o suficiente para me prender à narrativa;
- os meus documentos todos (que belo Carnaval vai ser...)
- 11€ (aqui é a parte em que alguém foi almoçar à minha pala, ou comprar um dose de cavalo...);
- a minha agenda, que deve ser inútil para outras pessoas mas que a mim...
- o meu caderno de ideias e desenhos (...), oferecido numa ida ao Porto, com um esboço do belo Serralves....
- o meu mp3 (ok, eu sei o que vai fazer com isto)
- os meus óculos graduados (a menos que tenha exactamente a mesma graduação que eu, que é muita, nao deve conseguir fazer grande coisa)
- a minha bolsa de higiene (sei lá, secalhar tava a precisar de uma escova de dentes! ou de um desodorizante! ou de uma pinça! uma pinça! devia ser isso...)
- uma pen de 1GB (bom proveito, e a tudo o que nela estava gravado)
- a minha mala-saco, fiel companheira de todo o lado.
- o meu estojo
- e mais qualquer coisa, que agora me deve estar a passar ao lado e que em breve vou descobrir quando precisar...
Agora fora de ironias, não são coisas de valor, e provavelmente vão acabar dentro de um caixote do lixo ou numa mata qualquer, isso é que me irrita, é uma pessoa andar na sua vida, a trabalhar ou a estudar e depois há uma Individuo qualquer que em vez de ir trabalhar tem ideias destas. Bonito sim senhor, durma bem na sua vidinha de roubar coisinhas aos outros.
O dia hoje, solarengo e bonito, um mar espectacular e sorriso na cara, acabou com uma fechadura rebentada, Bancos e contas canceladas, Polícia e vistoria aos caixotes do lixo de Carcavelos.
Aviso, cuidado com os carros, e bens pessoais, hoje foi no Parque de estacionamento do Sombrero, em Carcavelos, e diz o chefe da Polícia que chega o bom tempo e é a loucura dos assaltos...
Pensando positivo, há coisas piores, e tudo acontece por uma razao. Amanha há mais.

Livros & Books & Livres & Libris & Bücher *



Aqui há tempos foi me pedido que escrevesse um artigo sobre algo sem o qual "não conseguisse viver", sem ser uma pessoa. Obviamente que se trata de um hiperbolismo, pois, sem contar com as necessidades vitais de um ser humano, todas as outras coisas podem ser dispensadas, consoante as circunstâncias e estado em que uma pessoa se encontra, mas isso já dava tema para outro post.
Escolhi escrever o artigo sobre Livros. Objecto que me acompanha desde menina, que não dava descanso aos meus Pais, por os "devorar" demasiado rápido, que me fizeram andar de mochila durante longos anos de modo a poder transportar, para qualquer lugar, o calhamaço que estivesse a ler.
Li os livrinhos dos Cinco e companhia, e depressa passei para as centenas de páginas, sem haver lombada que me intimidasse. Lia em todo o lado, a todas as horas, por vezes dois livros distintos em simultâneo.
Os livros de facto são óptimas máquinas do tempo e do espaço, e isso deliciava-me e viciava. Depois, o tempo livre foi ficando escasso, a leitura esteve parada durante muito tempo, até se tornar ridículo e eu tentar mudar isso e regressar ao prazer dos livros. Embora a velocidade de consumo de livros já não seja tão elevada, há sempre quem se lembre desta minha paixão e a alimente :) , e há sempre o meu devaneio por um livro perdido numa loja e que se torna uma aquisição inegável, e os livros em "stand by", por lêr, a cumulam-se em pequenos montes em cima dos móveis e em listas de compras nas agendas. Mas não faz mal, é quase como ter uma pequena livraria em casa, com a vantagem de ter vários títulos e estilos à escolha.
E esta paixão vai desde a minha estante, estimada desmesuradamente, às dedicatórias que encontro dentro de alguns livros oferecidos, ao cheiro dos livros novos, capas lisas que nunca foram abertas e esperam tornar-se usadas nas nossas mãos, às livrarias, lombadas e lombadas conhecidas e desconhecidas, à Bertrand do Chiado, com as suas estantes de madeira repletas de informação, a gritar atenção, aos livros antigos, amarelados, de cheiro indefinido, que foram de alguém, que vieram da casa de outros, que foi comprado pelo meu Avô a 8 cêntimos, ao turbilhao de sensações em que um livro nos pode envolver, ao espaço que deixa de existir para passarmos a estar no contexto altamente volátil da narrativa, à informação ali impressa pronta a ser absorvida pelos nosso cérebros, para criar ideias, despertar emoçoes, reflexões, realidades, sedimentar conhecimento.
E hoje, mais uma aquisição, numa Feira do Livro de uma escola secundária, onde, quem quisesse podia oferecer os livros que tivesse em casa e já não quisesse, para serem vendidos nessa tal feira. Surpreendentemente, esta foi a minha primeira compra em termos de livros usados. Não me faz qualquer confusão o conceito de venda e usofruto de objectos usados, sejam livros, roupa, acessórios ou peças de decoração. Numa sociedade de produção massiva com vista ao consumo rápido associado a um tempo de vida dos produtos cada vez menor (para catapultar esse mesmo consumo no menor espaço de tempo possivel), re-utilizar ou, re-usar algo que alguém já dispensou, parece-me óptima ideia, em vez de criar mais lixo mais rapidamente.
Voltando aos Livros, adquiri este:




Em óptimas condições, óptimo preço, o ja ter sido de alguém ja lhe confere história e um certo je ne sais quois, e já tem o meu nome escrito (hábito incutido pelos meus Pais desde que apredi a escrever). Ficaram lá outros, mais antigos e mais "alternativos" prontos a cruzar outros caminhos. Este, secalhar vai ser lido já.

* "Livros" em Português, Inglês, Francês, Italiano e Alemão :)